As tradicionais roupas chinesas

Um dos aspectos culturais mais interessantes da China são suas roupas tradicionais, que foram moldadas por várias dinastias e influências de gosto, costumes, povos e regiões. O país asiático possui muitas etnias, e os Han dominaram a região na maior parte do tempo, padronizando os costumes, inclusive de vestuário, ao seu próprio estilo. Gerações de modistas deram forma ao estudo e arquitetura das vestimentas, fazendo delas um componente indispensável na sociedade, para muito além de simplesmente cobrir o corpo, representando inúmeros significados, de maneira que o próprio progresso chinês ao longo dos milênios pode ser visto no desenvolvimento de suas roupas.

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Além de muito belas, elas também têm sua história. Ficaram conhecidas pelo nome de Hanfu, ou seja, roupas da etnia Han, o grupo étnico majoritário da China, e foram tradicionalmente usadas por dezenas de séculos. Sempre tiveram suas cores, desenhos, padrões, formas e uso, seja entre o povo, seja entre a corte e a família imperial. Foram extremamente populares especialmente até a Dinastia Qing, a última antes de a China sofrer forte influência ocidental em sua cultura.

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As Hanfu tiveram vários formatos, estilos e técnicas fabris, especialmente com seda, e também influenciaram as roupas de outros países, como o Hanbok coreano, o Kimono japonês e o Ao giao linh vietnamita. No ocidente, os padrões tradicionais asiáticos também influenciam a moda nos dias atuais, sobretudo em tecidos e estampas femininas. E, ainda hoje, a roupa tradicional reflete as sensibilidades da cultura chinesa. A posição social ou a origem geográfica de cada pessoa é culturalmente demonstrada no tipo de roupa que veste.

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Outros padrões de roupas, além do Hanfu, também tiveram seu lugar História. O terno Zhongshan é um tipo de traje masculino e foi defendido pelo Dr. Sun Yat-sen, após a fundação da República da China em 1912. Depois de o presidente Mao ter sido visto usando-o em público inúmeras vezes, esta roupa levou o nome de “Terno de Mao”.

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Um tipo de jaqueta usada pelos imigrantes chineses ao redor do mundo foi chamado de “Terno Tang”, em referência à Dinastia Tang (618-907 d.C.), muito embora não possuíssem nenhuma relação histórica. Também temos o Qipao, ou Cheongsam, que ficou conhecido pelo seu uso difundido nos anos 1920 e 1930, especialmente em Xangai, evoluindo do vestuário das mulheres manchu durante a Dinastia Qing (1644-1912 d.C.), a última a existir antes da proclamação da República chinesa. Levou esse nome pois os Manchus eram conhecidos pelos Hans como “Qi”.

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A manufatura de roupas na China vem desde tempos pré-históricos, há pelo menos 7 mil anos. Descobertas arqueológicas apontam que, há 18 mil anos, já havia agulhas e colares na região. As roupas compostas por duas peças, uma superior (yi) e outra inferior (chang), são historicamente mais antigas, e acredita-se que datam desde pelo menos 2 mil a.C. Usualmente, a parte de cima consiste num colete atravessado, e a de baixo numa saia segurada por um cinto. Este tipo de vestimenta era usada por ambos os sexos. Aproximadamente mil anos depois (dinastia Zhou, 1046 – 221 a.C.) aparecem as roupas de peça única (shenyi), ou robes, cortados em duas partes, mas costurados em uma só. Foi considerada a roupa formal dos chineses durante séculos, e influencia o vestuário de peça única ao redor do mundo até os dias contemporâneos.

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Após a unificação do território chinês, ainda nas Dinastias Qin e Han (221 a.C. – 220 d.C.), as regras do idioma, da escrita e das roupas também foram unificadas, levando a estratificação do seu significado social, que deveria demonstrar o status e a relevância de seu usuário. Foi estabelecido até mesmo um código formal de vestimentas. A tecnologia de fabricação de roupas e tecidos também recebeu grandes avanços no período.

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Durante as dinastias Wei, Jin, do Sul e do Norte (220 – 589 d.C.). se consolidou uma fusão de culturas e visões estéticas dos povos do norte e do sul da China, devido às guerras e contatos frequentes. O design de roupas também foi bastante influenciado por várias escolas filosóficas de pensamento. Já na dinastia Tang (618 – 907 d.C.), o Estado chinês era mais unificado e aberto a influência estrangeira, de maneira que as pessoas em geral eram mais cosmopolitas e multiculturais, refletindo no vestuário. Os estilos e gostos multiplicaram-se, com grande aceitação na sociedade.

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A dinastia Song (960 – 1279 d.C.) viu o surgimento de roupas mais simples e casuais, e durante o domínio mongol na China (dinastia Yuan, 1206 – 1368 d.C.), o vestuário se tornou uma combinação dos estilos mongol e han, com roupas elegantes e luxuosas para a nobreza, porém sem grandes enfeites. Na dinastia Ming (1368 – 1644 d.C.), as roupas tradicionais chinesas passaram a incorporar vários estilos, sempre com a ideia de uma beleza natural. Finalmente, na dinastia Qing (1644 – 1911 d.C.), as vestimentas tornaram-se bastante gloriosas, sem aberturas a influências externas.

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Após a República, as roupas cotidianas chinesas se ocidentalizaram bastante, tornando-se menos chamativas e mais práticas, enfatizando a praticidade do dia a dia, as formas e curvas do próprio corpo, principalmente em relação às vestimentas femininas. Mesmo assim, o Qipao continua a ser usado em algumas ocasiões e festividades, como casamentos.

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As roupas tradicionais na China geralmente possuem um corte reto, porém com formas folgadas, prezando pela harmonia. No uso comum, as cores são mais leves. Em funerais, a tradição é usar branco e, em casamentos, o vermelho. Vermelho, amarelo claro e púrpura também estão historicamente associadas a família imperial.

Como de costume ao redor do mundo, as roupas chinesas femininas são mais exuberantes que as masculinas, apresentando maior variedade de estilos, ornamentos e estampas. Linho, algodão e seda costumam ser os tecidos mais utilizados na confecção. Porém, homens de negócios eram proibidos de usar seda durante a dinastia Ming, demonstrando o elevado status cultural da seda para a China.

Também podemos dividir as roupas tradicionais chinesas em formais, semi-formais ou informais. As formais são utilizadas apenas em rituais confucianos (como sacrifícios e atividades religiosas), ou por pessoas importantes de altíssima classe que possuem o direito social de usá-las, normalmente o imperador e oficiais gabaritados. Normalmente consiste de roupas compridas, de mangas longas. Estampas de dragões, sobretudo de cinco dedos nas patas, só poderiam ser usadas pela família real, assim como a cor amarela brilhante. As semi-formais são adequadas para receber convidados, ir a encontros ou atividades culturais, sendo também normalmente usadas pelas pessoas nobres, devido ao seu preço. Já a roupa informal costumeiramente é composta de um robe de peça única, para ambos os sexos, em duas ou mais camadas. Meias brancas e sapatos pretos são os mais comuns.

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As dinastias chinesas também tinham suas cores prediletas. O preto era a cor mais digna durante a dinastia Xia (séc. XXI – XVII a.C.); o branco na dinastia Shang e o vermelho na Zhou. Além disso, as diferentes etnias chinesas (cerca de 54 no total) também possuem suas roupas tradicionais. Por exemplo, os manchus, que dominaram o Império na dinastia Qing, costumavam usar vestido longo e às vezes com uma jaqueta ou colete fora. Por serem governantes do período, esse tipo de vestimenta tornou-se popular.

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As outras etnias usam vestido longo e casaco curto com calças ou saia. Elas geralmente usam vestidos longos com chapéus e botas; outros preferem pelagem curta e geralmente envolvem a cabeça com tecido e usam sapatos. As nacionalidades Mongol e Tu usam vestido de gola alta com botões na frente; já os grupos Tibete e Monba, sem gola com botões de um lado; os Uigures vestem com botões à direita.

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Durante a Revolução Cultural (1966-1976 d.C.), já na era comunista de Mao Zedong, as roupas tradicionais chinesas foram praticamente proibidas, tendo em vista que a ideologia dominante pregava a libertação do passado de humilhação por potências estrangeiras e hábitos nacionais antiquados, para a construção de uma nova China. Felizmente, tal proibição não mais existe, e o vestuário histórico chinês continua mais exuberante que nunca, principalmente como inspiração para a moda contemporânea e no uso para todo tipo de rituais e festividades.

SAIBA MAIS

https://www.topchinatravel.com/china-guide/history-of-chinese-clothing.htm https://www.chinahighlights.com/travelguide/traditional-chinese-clothes.htm
https://www.chinahighlights.com/travelguide/traditional-chinese-clothes-history.htm https://www.travelchinaguide.com/intro/clothing/
https://www.cchatty.com/article/Traditional-Chinese-Clothing https://www.topchinatravel.com/china-guide/chinese-imperial-dressing.htm
https://gbtimes.com/evolution-ancient-chinese-fashion
https://www.encyclopedia.com/fashion/encyclopedias-almanacs-transcripts-and-maps/china-history-dress

http://www.historyofclothing.com/clothing-history/hanfu/
http://www.chinawhisper.com/pictures-of-traditional-ancient-chinese-clothing/
https://www.theworldofchinese.com/2013/06/evolution-of-chinese-womens-clothing/

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