Televisão e Anos 1990: um programa de auditório repleto de memórias

Se você nasceu entre o início dos anos 1970 e final dos anos 1980, é certo que passou a maior parte da adolescência vivendo numa bolha de ilusão e fantasia chamada anos 1990. Essa década foi marcante para uma geração que agora vê um mundo cheio de facilidades, com a internet alcançando todos os aparelhos e aspectos possíveis. Hoje, os smartphones são quase onipresentes e geram milhares de novos negócios todos os dias. Os adolescentes já não assistem mais televisão e pouco se relacionam com o mundo adulto. Mas nem sempre foi assim.

Nos anos 1990, informações importantes como a Reunificação Alemã ou a Dissolução da União Soviética chegavam com impacto aos olhos e ouvidos dos adolescentes – não mastigadas através de um vídeo espertinho do You Tuber do momento, mas pela música horripilante do plantão da TV Globo e, posteriormente, na voz radiofônica de Cid Moreira, o clássico apresentador do Jornal Nacional. Era muito comum para aquela geração de crianças e adolescentes passar horas e horas em frente ao “rádio com imagens” e sua programação produzida e padronizada por adultos: desde “TV Colosso”, passando por “Carrossel” até “Programa Livre” com Serginho Groisman ou “Topa Tudo por Dinheiro” com Sílvio Santos.

Sem essa de interatividade! Se você gostasse de determinado programa, era preciso aguardar pela exata hora do dia ou da semana em que seu filme, série, novela ou desenho favorito iriam “ao ar”. Sim, pois as ondas eletromagnéticas que alimentam o aparelho com imagens e sons viajam através do espaço. Não é magia, é tecnologia. E, apesar do videotape ter sido introduzido no Brasil no final dos anos 1950 pelo apresentador Miele, muitos espetáculos ainda eram televisionados ao vivo, como uma “live” do Facebook.

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Goulart de Andrade

E por falar em Miele, o ano de 1991 foi mágico, principalmente para quem acompanhava o canal SBT. Enquanto Amaury Jr. já reinava nas baladas do jet set da ponte aérea Rio-SP com seu programa Flash, e Otávio Mesquita ainda debutava com seu programa noturno de variedadesPerfil”, uma série de outros shows interessantes estava em pleno vapor naquele ano, entre eles o “Cocktail”, onde Miele e seu notável sorriso literalmente desnudavam uma série de mulheres-frutas, para o deleite dos garotos mais travessos. Outro comunicador, o grande jornalista Goulart de Andrade, apresentava o inesquecível “Comando da Madrugada” que, com sua empolgante música de abertura, convidava meninos e meninas a conhecerem o “maravilhoso” mundo da AIDS e dos hospitais psiquiátricos.

Não podemos esquecer também de outros ilustres, como o policialesco “Aqui Agora”, com o inconfundível Gil Gomes, uma espécie de Datena do mundo cão da época. No ano seguinte, seguindo a mesma linha, porém no canal CNT, Luiz Carlos Alborghetti, o mentor do apresentador Ratinho, vociferava contra a podridão das praias paranaenses ou contra o desamparo dos meninos de rua enquanto portava óculos escuros estilo aviador e um suave cassetete. Em seguida, foi a vez do próprio Ratinho estrear seu impagável programa de baixarias, palhaçadas e variedades, onde as estrelas eram pais e mães do povo, desesperados o suficiente para realizar um teste de DNA para seus filhos. Ou não… Será que ele é o pai?

Por fim, merece um parágrafo à parte o saudoso “Viva a Noite“, com Gugu Liberato. Este foi um dos responsáveis por consagrar o formato dos programas de auditório no Brasil. Criado no início dos anos 1980, em 1991 o programa apresentado por Gugu nas noites de sábado estava no auge, abrilhantando a vida das crianças com apresentações de músicos e bandas famosas como Loco Mía e Dominó, disputas entre homens e mulheres, além da dança do pintinho amarelinho patrocinada pelo Caldo Maggi, devidamente acompanhada pelo bordão: “Caldo Maggi, o caldo nobre da galinha azul! Tchu tchu tchu“!

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E, para colocar a cereja no bolo, os pirralhos se escondiam atrás do sofá quando Gugu anunciava de forma pavorosa, entre um ato e outro, um causo que “Parece Mentira, Mas Não É” – que nada mais eram que pequenas notinhas com notícias esquisitas narradas de forma sombria, e que muitas vezes se resumiam a uma manchete e um lead jornalístico. Posteriormente, Gugu comandou o “Domingo Legal”, com formato semelhante ao programa anterior, desta vez nas tardes de domingo, durante todo o restante da década. E quem não lembra dos repórteres ET e Rodolfo apresentando reportagens sobre o ET de Varginha ou o Chupa-Cabra? Essas coisas são, para os adolescentes de hoje, mais acessíveis que um apertar de dedos no sistema operacional Android… Mas é justamente pela simplicidade em suas formas de entretenimento que os anos 1990 foram uma festa!

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